segunda-feira, dezembro 19, 2005

Amor só mesmo na primeira 58....

Nunca mais a vi.... : (
É muito azar para uma pessoa só...mas a esperança é a ultima a morrer...

terça-feira, dezembro 06, 2005

Amor à primeira 58




Sai de casa dos meus avózinhos depois do almoço em direcção ao Chiado, tinha uma reunião de trabalho a cerca duma festa de passagem de ano que se irá realizar este ano no Palácio de Exposições da Tapada da Ajuda. Parei a poucos metros da porta de casa deles e esperei pela carreira 58, sim porque para quem não sabe, agora sou cidadão verde, só ando de autocarro e metro, de carro só à boleia e guiar só em caso de urgência/emergência.A casa dos meus avós fica na Rua Dom João V e como ia para a Baixa/Chiado, pode-se verificar que o trajecto é curto.Estava cansado e ensonado do fim de semana grande que apesar de recolhido foi bastante agreste para o fígado e para as horas de sono, deserto de ir para casa dormir a sesta antes duma aula às 18h30.
Sem paciência nenhuma esperei a chegada do autocarro como quem espera para ser atendido pelo médico num qualquer hospital de Portugal, enfadado e aborrecido. Ainda pus a hipótese de descer a pé até ao rato e apanhar a linha azul até à Baixa, mas por qualquer motivo o destino e a minha fraqueza física não mo permitiram. Mal sabia eu...Quando chegou o autocarro, entrei aos tropeções graças a um bêbedo que de tão "sóbrio" quase fez cair todas as pessoas que entravam comigo tipo pinos de bowling, uma cena que teve tanto de caricato e engraçado como de desagradável pois para o agarrar e impedir que caísse, levei com aquele bafo forte de bagaço de que o nosso tão querido povinho português é adepto.
Depois de passar o meu cartão de banda magnética (sim agora tenho um passe social) na maquineta, soltando esta um breve e quase inaudível "piiii", encostei-me à mesma esperando que o bêbedo encontrasse um lugar antes de qualquer outro para que o pior não viesse a acontecer e para eu próprio não ter de levar "again" com aquele bafum de bode.
O senhor lá se sentou, quase no fim do autocarro, voltado para trás e eu abstraí-me do coitado enquanto ele barafustava e pus-me a olhar para o fundo na esperança de ainda encontrar um lugar para mim.
Não é costume meu sentar-me nas últimas filas do autocarro, mas como estava cansado, resolvi ocupar um dos últimos lugares da carreira, o último do lado esquerdo (de quem está virado para a frente).
Ouvia no meu discman MC Xeg com uma música bem ordinária, ao melhor estilo do hip-hop português, chamada Suzana e carregava um livro (a minha companhia nas viagens de autocarro por essa Lisboa fora) que fazia tenções de abrir.
Ao instalar-me, antes de conseguir abrir o livro, olhei para o bêbado e depois em frente e o meu olhar colou...
À minha frente estava, com uma amiga, a miúda por quem me apaixonei...Melhor que amor à primeira vista, foi amor à primeira 58. O autocarro...
Fiquei tão chocado com a beleza dela que não mais consegui desviar os olhos, excepto quando esta me olhava directamente, pois encontrava-se dois lugares à frente virada para mim.
Era morena, metro e 60 (provavelmente), magra mas bem feitinha, olhos grandes cor de mar, dum azul tão vibrante como penetrante e um sorriso que deixaria qualquer homem derretido aos seus encantos. O conjunto era lindooooooo!
Parecia ter acabado de sair da ginástica, banho tomado, fita na cabeça e saco de desporto.
Conversava com a amiga num tom discreto e imperceptível (infelizmente) e não me cheguei a aperceber que nacionalidade era, pois por momentos vi-a sussurrar mexendo a boca para a amiga e consegui ler nos seus beiços shut-up, comentando o barulho que o bêbedo fazia aos altos berros num lugar ali ao lado.
Fiquei tão pasmado com a beleza dela que lhe tirei de "surra" umas fotografias com o telemóvel, mas com a trepidação do autocarro não ficaram muito boas para grande pena minha...
Senti-me um daqueles pervertidos que andam por ai nos transportes públicos a fazer este tipo de coisas e que depois vão para casa rebarbar, mas fiquei tão encantado que não consegui evitar.
Julgo que ela percebeu e num dos comentários que fez com a amiga reparei que olhavam para mim...calculei que falassem de mim pois a seguir esboçou um breve sorriso na minha direcção e foi ai que me caiu tudo!
Não sei se disse bem ou mal, se reparou mesmo em mim ou não (o mais provável é nem me ter visto com olhos de ver), mas aquele sorriso foi suficiente.
Ainda pensei em abordá-la, mas a vergonha primeiro, depois o seu ar inocente e a "magia" do sentimento que tive, fizeram com que não me aproximasse nem emitisse qualquer tipo de vibração sonora que pudesse estragar aquele momento de paixão.
Sai assim do autocarro na secreta esperança de a voltar a ver um dia num qualquer autocarro da Cidade de Lisboa, ainda me virando à passagem do mesmo e espreitando lá para dentro na também secreta esperança de um último olhar ou até mesmo um adeus da sua parte...
Foi a melhor viagem de autocarro que fiz em toda a minha vida, nunca pensei sair tão moralizado dum autocarro e tão apaixonado sem sequer conhecer a outra parte envolvida no assunto.
É engraçado, mas passei o dia a pensar nesta miúda a quem não posso chamar pelo nome e nem a idade sei e apesar desta longa história tocar/roçar o piroso, só rezo na esperança de a voltar a encontrar numa destas carreiras que separam a casa dos meus avós e o Chiado que era aquele lugar onde não costumava ir muito se não há noite e para os copos.
E pronto aqui fica o diário da minha foleira paixão na carreira 58...no dia 5 de Dezembro de 2005.