terça-feira, abril 06, 2010

Dia da Mulher é quando o Homem quiser!


Porrada... Lá estava ele a encher-lhe a maleta mais uma vez!
Os vizinhos já não aguentavam tanta pancadaria e tanto sofrimento.
Noite após noite, havia gritos e choro que ultrapassava as paredes do prédio. No dia seguinte, as inevitáveis nódoas negras... quando não era um braço ou o nariz partido, a cabeça lascada ou mesmo um traumatismo! Mas ninguém fazia nada. Não havia quem se insurgisse!
Nas escadas do prédio, passava sempre pelos vizinhos de cara em baixo, coitada, dava um “bom dia” envergonhado, pois a impotência face aos actos fazia com que não suportasse o olhar de piedade dos que conviviam com aquela situação, dia após dia, após dia, após dia.
Quase todas as noites levava com cadeiras nas costas ou colheres de pau na cabeça, ou socos, ou bofetadas e pontapés violentos que lhe dilaceravam o corpo e o marcavam exteriormente. Mas era no interior que as marcas mais duravam.

Os vizinhos comentavam uns com os outros e inclusivamente já tinham procurado ajuda para a pobre coitada, mas ela não estava preparada. Quando os serviços sociais lhe bateram à porta, deu graças a Deus interiormente por o marido não se encontrar e “correu” com as simpáticas raparigas que a visitaram assim que lhe foi possível, dizendo que tudo estava bem e que devia haver um engano na morada pois naquela casa tudo se encontrava normal.

Ana Luísa apercebera-se de facto que a “encomenda” vinha dos vizinhos que, tal como ela, já não aguentavam, impotentes, aqueles contínuos maus-tratos.
Ela, por um lado, estava farta de ser saco de pancada e objecto de satisfação das necessidades básicas do marido, António Paulo, mas por outro lado, casara-se nova e sem experiência da vida...e ele dava-lhe casa e não deixava que nada faltasse. Excepto amor!

Queria fugir e não podia, era prisioneira dos seus medos, das suas incertezas. Sofria ainda mais por ser assim...incapaz.

Naquela noite quente de Agosto Ana Luísa não respondeu por si nem foi ela que cometeu o acto.
Após um soco forte que a atordoou e um pontapé nas costas, sentiu-se arrastada para o quarto pela bebedeira do animal.
Atirada para cima da cama, despojada e rasgada, pedia-lhe desculpa, chorava e sentia que estava a ser castigada, sem se aperceber bem por quê. Que mal tinha feito desta vez?!
António Paulo, mandava-a calar, enquanto tirava o cinto, ofendendo-a, e quando o tirou completamente açoitou-a novamente até à iminente inconsciência.
Ana Luísa mal voltara a si e tinha já aquele monstro no meio das suas pernas fracas e doridas. Acordou completamente, com as dores que este lhe provocava e chorava mais alto em silêncio, enquanto era também mordida! As mãos nojentas de António esfregavam-lhe os seios e apertavam-nos, indiferente à dor física que causavam. Violava-a! Penetrava-lhe a carne com a sua, mas mais ainda o espírito lhe roubava, outra vez.

Sem se aperceber como, um extraordinário silêncio envolveu o quarto de repente.
Sentia ainda o nojento em cima de si, mas incrivelmente já não a magoava. Apenas estava.
Livrou-se debaixo do peso morto e notou os milhares de vidros escaqueirados pelo chão.
Ana Luísa nunca mais sofreria.

Por: tomás pimenta da gama
Para: Fábrica de Histórias
http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/


1 comentário:

CerEja disse...

gosto bastante do que tenho lido por aqui =)

continua!

p.s.: ve se nao passas tanto tempo sem escrever.